sábado, 27 de outubro de 2012

Quando "i" (ai) era som de um gemido!!

Estávamos em um restaurante, à espera do Menu Confiance oferecido pelo Chef, sob um clima romântico comemorativo, como aparentemente estavam todos os casais presentes.

Infelizmente minha concentração ficou comprometida, com o comportamento de um casal bonito, na faixa dos 30-35 anos, da mesa ao lado.

O homem lia e digitava ininterruptas mensagens, às vezes com meio sorriso nos lábios, às vezes com a testa franzida.

O cardápio veio. Ambos escolheram o “menu”. Ele com olhos no cardápio e no iPhone. Em seguida o maitre ofereceu a carta de vinhos, quando o rapaz interrompeu seu apego ao iPhone para, com um meio sorriso, perguntar à moça:
 - “Pode ser um Bourdot Saint Georges?”

Gravei o nome do vinho, pela empolgação da mulher, com o sorriso dos olhos dela, quando perguntou:
 - “Aquele maravilhoso que tomamos na lua de mel em Paris?”
Ele sorrindo, acenou com a cabeça.

Acho até que por alguns segundos ela teve a esperança de que o “vinho” prometesse algum diálogo.
Mas... o vinho “maravilhoso”, caríssimo, foi ritualmente servido em seguida, e...
Ele por alguns instantes, com os olhos nela e na taça, brindou, um brinde vão, oco, rápido e trocou meia dúzia de palavras, para em seguida voltar o olhar para o maldito iPhone: um desprezo impune, silencioso.

Por pouco não me solidarizei com ela, mas aí eu é quem teria estragado a minha noite. A mulher, sem alternativa, após o brinde chocho, pegou também seu iPhone e ambos passaram o jantar, lendo e enviando mensagens, ela talvez fingindo que mandasse: um consolo penoso, compulsório.
Entre um gole e outro, entre uma garfada e outra, trocaram raros sorrisos e escassas palavras. 

Pensei  em criar uma COMUNIDADE = ODEIO iPhone; iPad, iPod, Blackberry, mas temendo não ter nenhum quorum, e ao contrário me tomarem por insana, ou resolverem usar meu cérebro para pesquisa, "o que pensavam os cérebros do passado”, decidi tão somente me desabafar com vocês.

Resolvi começar assim: "SOU DA ÉPOCA”, e vi que pegaria mal, seria um “mico”, porque isso remete a um passado longínquo que me tiraria toda credibilidade; mas mesmo correndo risco resolvi falar; vamos lá: "No meu tempo”  (e isso faz pouquíssimo tempo - JURO), quando “i” (ai) ainda era um gemido, quer de dor de amor ou de prazer... ouvir um “ai” mereceria sua preocupação, cuidado ou deleite; e o “maneiro”, “irado” era: sentar-se à mesa de um bar ou restaurante e conversar, trocando palavras verbalmente falando (emitidas pela boca mesmo), com seu par a noite inteira sem interrupções; ligar em segredo pelo celular só para ouvir a voz da pessoa sem que ela te identificasse pelo "bina”;  convidar os amigos para festa, ligando para eles carinhosamente pelo telefone, ou mandando convites impressos lindos; ir descobrindo os segredos do seu(sua) amado(a), porque ele te confidenciava ou sua malícia permitia; e não porque alguém, inconveniente, colocasse uma foto sua antiga comprometedora no Face dele(a); conhecer novos amigos, através de novos amigos ou de “paquera”; entrar em um livraria, tomar café e escolher um livro impresso de verdade, para depois lê-lo, ouvindo o folhear das páginas de papel uma a uma deitada na rede. Isso quando “navegar” ainda era viajar pelo mar e “hospedar” era receber alguém em casa.

Poderia continuar enumerando as delícias do passado, como colecionar discos de vinil ou Cds (para quem não sabe o que é - vide Google); e “touch me” queria dizer toque-me e não “segure e arraste”...

Esquece!

Incontrolável, irreversível, “viral”!!!

Nostalgia demais, acabou, "IT´S  OVER”, quem viveu… viveu.. quem não viveu perdeu.

Hoje, carta? Propaganda ou cobrança. Telegrama? Deus me livre, só do fisco avisando que você esta na malha fina. Sentar à mesa? Somente se souber conviver com o “bip” “bip” do iPhone e de todos os outros “i” (ais), apitando sem parar, anunciando cada mensagem que chega, ou dividindo seu par, seus filhos e seus amigos com o iPhone, iPad,Smart Phone, Blackberry e todos os outros “i”(ais) deles; que não são os seus, e ai de você se reclamar, pode ser deserdada, defenestrada, punida: “ai...ai...ai... vai ficar de castigo, porque não tem nenhum “i” aí dentro da bolsa.

Convidar para festas? Descobrir todos os segredos? Dele(a), de seus amigos, de todos os amigos dos amigos? Os declarados e os inconfessos?

Só entrar no FACEBOOK.

Enfim, ou você perde o romantismo e a privacidade, ou vira pré-histórica.

Então acho que vou me render, cansei, percebi que caí em desuso, só me resta criar uma comunidade: ROMÂNTICAS REINVENTADAS, aquelas que mesmo decorando todas as siglas e tirando proveito de tanta tecnologia, prometem  perder e invadir o mínimo de privacidade possível à sobrevivência e permanecer atentas e presentes ao lado de suas companhias a despeito de qualquer chamado ou “bip” do além mundo, tentando preservar a delícia do arrepio de um beijo no pescoço antes que, Deus me livre, acabe definitivamente o contato físico (tato) e verbal (boca/ouvido) e só existam o iSexo, iBeijo, iNamoro, iAmor, iAmigos, iVida.

E em prol dessa causa, comecei uma pesquisa com os maiores sobreviventes, acima dos 35 anos, para saber quanto os “i” (ais) atuais, [fora do trabalho (onde são um bem necessário)], afetam suas vidas íntimas, leia-se também o sono,  a frequência do sexo; as gracinhas dos filhos, mesmo que banais “but not least” o contato físico, a ida ao cinema com tela de verdade, as conversas com frases ditas e saídas dos lábios e por isso, quanto esses “i” (ais) comprometem e ou invalidam os “ais” genuínos, verdadeiros, causando entraves ou impasses nos relacionamentos pessoais.

Lutar contra? “Murro em ponta de faca”.

E então? Conciliar!!
THAT IS IT !……AMÉM!
Quem quiser aderir ao "movimento" ou dar sua opinião mesmo que contrária, se manifeste por favor, antes que seja tarde. Aguardo!!!!
 R.O.

 Postado por: Rosangela Ojuara

 

 

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